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quarta-feira, maio 04, 2011

Aos 36º de idade

Calor muito além do suportável. Olho para o velho e barulhento aparelho de ar condicionado que o fabricante chama de portátil. Um mondrongo quase do tamanho de uma geladeira. Há muito tempo não uso, deixou de ser confiável, ameaça explodir. Mas hoje estou derretendo, posso ver o mousepad encharcado de suor que escorre pelo braço. Abasteço o tanque de água do trambolho. Ligo. O motor arranca, ensurdecedor. Pega. O chão treme. A janela com buraco redondo, por onde passa a mangueira sanfonada do ar quente, treme. As paredes tremem. O prédio treme. Mas só o motor funciona. Nada do compressor pegar. Sem ele não tem frio. O velho motor gira e dá solavancos repetidos. A vizinha do lado acorda. O vizinho de baixo acorda. O de cima. O quarteirão. O bairro inteiro acorda. Quinze minutos depois, o compressor pega no tranco. O ruído agora lembra uma locomotiva. Ferro com ferro atritando na máquina. Derreter ou ficar surdo, essa é a questão. Enfio chumaços de algodão nas orelhas. Por cima, um fone de ouvido que não funciona mais. Consigo amenizar o ruído, mas tudo continua tremendo. Calculo uns 7 pontos na escala Richter. E só então percebo que ainda estou suando. O vibrador de mamute não dá conta do calor. Desligo. Abro a porta da geladeira e durmo no chão da cozinha. É assim.